UE estuda contramedidas a tarifas de Trump enquanto tenta negociar

por Graça Andrade Ramos - RTP
Comissário do Comércio da UE, Maros Sefcovic Johanna Geron - Reuters

Não a alterações do sistema de IVA, sim a tarifas zero para bens industriais trocados entre a UE e os EUA, a par de uma lista de contramedidas e de contactos com os representantes das indústrias, para estudar medidas políticas. Bruxelas levantou esta segunda-feira o véu sobre o que está a fazer para responder à estratégia tarifária da Administração Trump.

No âmbito do amplo plano da administração norte-americana, o bloco de 27 países da UE enfrenta tarifas de importação de 25 por cento sobre o aço, o alumínio e os automóveis e de 20 por cento a produtos importados da União Europeia. A presidente da Comissão falou ao telefone esta segunda-feira com representantes da indústria metalúrgica, devendo contactar depois com o setor automóvel, sobre como responder à crise provocada pelos EUA.


O impacto das taxas levou a uma reunião dos ministros do Comércio da UE e a Comissão Europeia, no Luxemburgo, para evitar eagravar as tensões comerciais e concertar as contramedidas às tarifas, sobre o aço, alumínio e derivados, e outros bens, como o vinho e bebidas espirituosas, que a UE irá impôr a determinadas importações dos EUA e cuja lista está a ser compilada.

O comissário do Comércio da UE, Maros Sefcovic, garantiu aos jornalistas que a lista deverá estar completa "esta noite". Sefcovic quantificou ainda o impacto das contramedidas que a UE poderá impôr que não deverá ultrapassar os 26 mil milhões de euros.

"Posso dizer-vos que não chegará ao nível de 26 mil milhões de euros (28,46 mil milhões de dólares), porque temos ouvido com muita atenção os nossos Estados-membros", disse aos repórteres. "Queríamos garantir que o encargo era distribuído de forma justa por todos os Estados-membros", acrescentou.

O objetivo é também "não escalar" a crise.
Tarifas zero para bens industriais
Bruxelas continua a tentar negociar soluções com Washington. Maros Sefcovic iniciou contactos sexta-feira com as autoridades norte-americanas, mas referiu que os negociadores da UE não têm visto um compromisso que conduza a uma solução mutuamente aceitável.

Um exemplos dos obstáculos é o sistema de IVA - impostos sobre o valor acrescentado – que Donald Trump considera uma barreira comercial adicional. Sefcovic garantiu esta segunda-feira, que a União Europeia não irá alterar o seu sistema de IVA, que descreveu como uma importante fonte de receitas para os Estados-membros. Nas suas declarações aos repórteres, o comissário sublinhou ainda que, se as negociações não conseguirem chegar a acordo, as contramedidas da própria UE sobre as tarifas dos EUA, que terão início a 15 de abril, não poderão ser adiadas

A UE levou para a mesa de negociações uma proposta de tarifas zero para bens industriais em trocas comerciais entre UE e EUA, revelou entretanto a presidente da Comissão Europeia, em conferência de imprensa, na capital belga.

Von der Leyen frisou os "custos enormes" que os novos direitos aduaneiros norte-americanos terão para o bloco europeu e para a economia mundial e sublinhou a disposição da UE para "negociar".

"Este é um ponto de viragem importante para os Estados Unidos, mas estamos prontos a negociar e, por isso, propusemos tarifas zero para os bens industriais, como fizemos com sucesso com muitos outros parceiros comerciais, porque a Europa está sempre pronta para um bom acordo - e mantemo-lo em cima da mesa", referiu a líder da Comissão Europeia.

Ainda assim, de acordo com Ursula von der Leyen, essa "oferta foi feita há muito e repetidamente, por exemplo, no setor automóvel, mas não houve uma reação adequada a essa oferta".
Grupo de trabalho

Nas mesmas declarações, ocorridas esta segunda-feira, após uma reunião com o primeiro-ministro da Noruega, Jonas Gahr Støre, von der Leyen salientou que a UE está "preparada para responder através de contramedidas e defender os interesses" comunitários, assegurando que "todos os instrumentos estão em cima da mesa".

Von der Leyen, anunciou ainda a criação de um novo grupo de trabalho com especialistas para monitorizar o impacto direto das novas tarifas norte-americanas. A missão do grupo será a criação de uma "base de dados, necessária para as medidas políticas" a serem adotadas, explicou von der Leyen.

Tais medidas serão concertadas com as indústrias afetadas, garantiu ainda a presidente da Comissão Europeia, mencionando um "contacto estreito" sobretudo com os setores industrial, siderúrgico, automóvel e farmacêutico, especialmente afetados pelas tarifas dos EUA, para "trabalhar em conjunto e minimizar os efeitos mútuos", referiu von der Leyen.

O bloco europeu está, ainda, focado nos "83 por cento do comércio mundial para além dos Estados Unidos", concluiu Ursula von der Leyen, falando no aprofundamento das relações comerciais com Mercosul, México, Suíça, Índia, Tailândia, Malásia, Indonésia "e muitos outros" blocos.

com agências
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